apresentação

O Projeto Nhemongarai surge da motivação de colaborar com ações que revertam o colapso ambiental e social que estamos vivendo enquanto humanidade no século 21. Neste sentido, sonhou-se em tecer uma rede de apoio e sustentação que fortaleça as comunidades indígenas da região de Santa Catarina e que colabore com o desenvolvimento sustentável dessas aldeias (do local ao global).

Durante a pandemia do novo coronavírus, muitas ações foram feitas para colaborar com os povos indígenas que assistidos parcialmente pelos órgãos governamentais, foram proibidos de sair de seus territórios por força de decreto. As pessoas das aldeias que não poderiam mais vender artesanatos tiveram sua soberania alimentar em risco, bem como outras dificuldades causadas pelo isolamento social. A equipe do ICM-C ajudou no momento fazendo campanhas e arrecadação que foram chamadas de Tekoayhu (somos todos Guarani). Muitas cestas básicas foram distribuídas, porém tínhamos o sonho de colaborar de alguma forma mais sustentável com este processo.

Em meio aos contatos com as lideranças nas campanhas vimos no seio da cultura Guarani um ritual de grande valor para o fortalecimento da agricultura e da própria cultura Guarani. Um ritual repleto de valores sociais, ambientais e espirituais que são capazes de colaborar com o desenvolvimento sustentável e que, uma vez reconhecido pelos não indígenas (juruás), pode mudar a visão sobre os povos indígenas, sobre si mesmos e sobre a trajetória de desastres sócio-ambientais que estamos sofrendo nos tempos atuais. Se trata do ritual Nhemongarai.

Nas palavras do Marcelo Nhamandu Papa (liderança da aldeia Tava’i) O Nhemongarai é constituído de rituais que acontecem nas Tekoas (aldeias Guarani) todos os anos e marcam a renovação dos ciclos da natureza. São momentos de pedir a Tupã e a sua luz criadora que abençoe o novo ciclo e que fortaleça as florestas, os rios, os animais, as plantações, as crianças e todas as pessoas da comunidade, para que todos (frutos e filhos de Tupã) possam crescer e se desenvolver e florescer por mais um ano.

Segundo o cacique Marcelo, o ritual do Nhemongarai é um “escudo” poderoso da etnia Guarani, defende a cultura, e eleva o povo a caminho da Terra Sem Males. O ritual é dividido em três etapas:

  1. Nhemongarai de preparo dos plantios, do solo e das sementes; 
  2. Nhemongarai de agradecimento pela colheita farta e pela saúde da comunidade; 
  3. Nhemongarai do batizado das crianças e do “raio X espiritual”.

A correlação muito direta destes rituais com os ensinamentos de Lama Padma Santem sobre o florescer da Primavera do Dharma, e a importância de praticar “Terra Pura” deram a inspiração de fortalecer os laços não só da agricultura entre o CEBB Mendjila, Floripa e a Tekoa Tava’i, mas uma verdadeira troca de saberes e reconhecimento de valores entre a tradição budista e a tradição Guarani.

 A ação do Instituto Caminho do Meio neste projeto tem um papel extremamente simples, estamos aprendendo e colaborando com a elaboração de encontros com os Guaranis e apoiando-os neste processo de renovação dos ciclos. Desta forma desenvolvemos os cursos “Sementes de Saberes” onde os Guaranis surgem como interlocutores de seus valores e costumes (cultura Guarani). Nestes encontros aprendemos a como nos relacionar melhor com a natureza e com os ciclos da natureza. Também aprendemos como funciona a aldeia (Tekoa) e como se organiza o modo de vida dos moradores da aldeia (Teko). Para que possamos auxiliar e aprender com os movimentos da Tekoa Tava’i também damos apoio a aldeia para estruturar espaços físicos para que estes rituais aconteçam da melhor maneira possível, ajudando o cacique com a compra alimentos para realização de mutirões e materiais de construção, materiais de trabalho (ferramentas e equipamentos de segurança), mudas e sementes. Nesse sentido, acreditamos que estamos atingindo um dos principais objetivos do projeto – a segurança alimentar e a soberania dos povos tradicionais, através do estabelecimento de redes de apoio e de retroalimentação entre o povo Guarani e a Sangha budista da região. 

 Além disso, o projeto tem como a aspiração de tecer aproximações da visão do Dharma (do Budismo) com o Nhandereko (modo de vida guarani), também nos espaços do CEBB. A intenção é poder tornar visível, a partir da ritualística Guarani, o aspecto mágico do plantio, da colheita, do manejo e, finalmente, dos modos de cuidar e reverenciar a terra. Isso reverbera num entendimento da abundância da vida que essa mesma terra faz incansavelmente brotar, a qual naturalmente desdobra-se em sentir a proteção e cuidado que os seres de sabedoria espalham sobre nós, quer os chamemos Buda ou quer os chamemos Nhanderu. Nesse sentido, o Projeto Nhemongarai também vem concretizando os sonhos de espaços interculturais que acolham o povo Guarani na venda de artesanatos e a troca de saberes tanto no CEBB Mendjila (Tenda Maino’i, Bosque Guarani e Jardim de Paz) quanto no CEBB Florianópolis (Espaço comunitário de contemplação e apoio a Horta). Espaços que pretendem inspirar o caminhar na direção de efetivar ações concretas (encontros, cursos, feiras de trocas, fóruns socioambientais) que fortaleçam a comunidade indígena Guarani, assim como ampliar as compreensões sutis dos sujeitos não-indígenas sobre aquilo que se relaciona com um belo viver na Terra.

A realização do projeto conta com o Apoio do Fundo Casa Socioambiental, sem o qual não seria possível sua realização em todo potencial. O Fundo casa apoia centenas de projetos Brasil afora, com objetivos de fortalecer as ações de centenas de milhares de pessoas em construir um futuro mais socialmente justo e ambientalmente saudável para o País.  Para conhecer todas as atividades do projeto, acesse o menu do projeto ou acompanhe as notícias também. Na parte de contatos poderá se comunicar conosco e até colaborar.